sábado, novembro 15, 2008

Carta 1

“Ana, não dramatises tanto a situação… quando uma porta se fecha, abre-se uma janela.”
Para mim muitas janelas já se abriram. Já tive portas abertas em tempos. Já se fecharam igualmente algumas portas e janelas.
Hoje sinto que a minha vida é uma casa, à qual se fecharam as portas, cujas fechaduras se trancaram a sete chaves. Tenho janelas abertas, sim, algumas delas abriram-se em função das entradas principais que se fecharam. Mas onde já se viu, entrar e sair de uma casa pela janela? Sempre pelas janelas abertas. Não dá muito jeito. Uma pessoa arrisca-se a partir uma perna, a cair com os dentes no chão, a partir costelas, coluna… se bem que os nossos atributos físicos se desenvolvem e ganham alguma perícia a saltar por ela, ou a entrar pela mesma. Mas a idade não perdoa… Tornamo-nos velhos, e pensamos “uma porta aberta dava-me jeito para sair sem ter de saltar.” E então deixamo-nos ficar em casa, apenas a contemplar pelo grande buraco da parede, como se fosse uma pintura tão real, que nos deixamos absorver por ele. E o tempo passa, e as oportunidades de encontrar as chaves das portas perde-se. Ficamos contemplando, apenas à espera que nos arrombem a porta de entrada, ou neste caso, de saída, para o mundo la fora que nos chama.
E se a entrade se fecha quando estamos do lado de fora? Entramos pela janela, a todo custo, mesmo que a única aberta esteja alto demais. E é a vida.
Tu foste a minha ultima porta que se fechou. Ela foi aberta num periodo em que mais precisei. Foi um comodismo imenso…. Eras o meu contacto com os meus sonhos. Eras a entrada segura.
Quando ela se fechou, abriram-se janelas. Mas pequeníssimas. Apenas buracos fundos onde podia vislumbrar apenas alguns bocados de luz. Estes foram-se abrindo, tornando-se em vistas melhores da paisagem, mas nunca seguras o suficiente para entrar e sair de casa sem lesões, por muito infímas que algumas fossem.
Não tenho muito mais para dizer. Espero que tenhas sempre portas abertas para ti, mesmo que não o mereças.

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