segunda-feira, janeiro 05, 2009

Divinidade Imperfeita

"Ironia das ironias. Deixei de amar um deus, para amar outro.
Isto de amar um deus, tem muito que se lhe diga… é dificil gostar de um, quanto mais ama-lo.

Por vezes, de pequeninos, ensinam-nos a amar, respeitar ou adorar um deus. Umas vezes só uma coisa, outras vezes as três ao mesmo tempo. Ter uma religião. Ter uma referência interior. Isto é amar aquilo que não se vê, e se vê em tudo, em todas as coisas.

Amar um deus é diferente. Amar um deus, é amar um homem que se acha deus.

Há muito tempo, deixei de amar um deus que pensava que era omnipotente. Quero, posso e mando, determinava ele. E talvez por ser assim é que o fazia ser dependente. O omnipotente dependente. Se não vivesse cercado de atenções, poderia às vezes se enfurecer, castigar, amuar, levando até ao abandono. Acreditem quando as pessoas dizem, o meu deus me abandonou! Os deuses por vezes quando estão amuados, abandonam-nos, mas depressa voltam porque precisam de oferendas e sacrifícos para alimentar a crença. Eu fui crente deste deus, admito. Durante um tempo que eu considero quase infindável. O suficiente para me ter sujeitado à sua religião, a essa referência interior. Deixei de acreditar nele porque já não tinha mais oferendas nem sacrifícios para lhe oferecer, e eu não podia sacrificar a minha alma. Não se pode sacrificar algo que não nos pertence. Nem a deus, por vezes… Algo que é livre, é nosso e não é de ninguém.

Após muito tempo tive a aparição de outro deus. Mas este deus não é igual. Alias, este, não é igual a coisa nenhuma. Ele é deus no nome, deus nas suas palavras. Um deus consciente das suas fraquezas e dos seus limites, e ao mesmo tempo um deus livre, leve, mas muito despegado. Bom ouvinte. Daqueles deuses que dá para falar com ele durante horas pedindo coisas, confessando segredos e pecados, contando a vida. Sei ainda muito pouco sobre este, mas adivinho que seja do tipo que só dá o devido valor às coisas quando sente que está no limiar de as perder, ou até mesmo quando as perde. E deixa-as ir, ficando sozinho. Não pela sua felicidade, mas pela felicidade do seu crente.
Andamos um quarto da nossa vida julgando que encontrámos o nosso deus.
Depois desiludimo-nos e deixamos de acreditar nele, porque ele nos falhou. É certo que muitas vezes somos nós que falhamos com ele. Ou connosco próprios. Os nossos erros acabam por nos prejudicar mais a nós do que a segundos ou terceiros.
E derrepente, ele está ali. Sempre esteve diante de nós, e nós nunca o vimos. O deus verdadeiro. Verdadeiro connosco, consigo próprio, por mais imperfeito que seja. Mas nunca efémero…
Já ousei amar um humano. De carne e osso. Mortal. Esse ao menos nunca deixei de o amar…"

autor desconhecido

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