segunda-feira, fevereiro 23, 2009

Danaíde



Auguste Rodin

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sábado, fevereiro 21, 2009

Casa

"Tentei fugir da mancha mais escura
que existe no teu corpo e desisti.
Era pior que a morte, o que antevi:
era a dor de ficar sem sepultura.

Bebi entre os teus flancos a loucura
de não poder viver longe de ti:
és a sombra da casa onde nasci,
és a noite que à noite me procura.

Só por dentro de ti há corredores
e em quartos interiores o cheiro a fruta
que veste de frescura a solidão...

Só por dentro de ti rebentam flores.
Só por dentro de ti a noite escuta
o que sem voz me sai do coração"

David Mourão-Ferreira

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sexta-feira, fevereiro 13, 2009

A Forma

"Micheal Auping: Ao abordar um terreno, quais elementos ou características você busca para determinar como vai construir? Que aspectos tendem a lhe inspirar?

Tadao Ando: A arquitectura deve ter seu próprio universo, mas, como você diz, ela deve sentir as forças e o vigor do sítio. É sempre mais complicado do que nossas teorias. Num local urbano, é preciso ser prático e o terreno específico deve dialogar com os outros edifícios e com os caminhos, com a maneira como as pessoas se deslocam. Um espaço aberto como o de Fort Worth sugere uma disposição que lide com a energia topográfica da própria terra. Este lugar possiu um bosque, o potencial para ser um parque dentro da cidade. Isto vai estabelece-lo como uma força intensa, mas apaziguadora, numa área muito movimentada da cidade. Há também o universo colectivo dos membros da equipa - a equipa de arquitectura, a equipa financeira, o pessoal do museu. Todos têm de acreditar que é possível realizar algo naquele local. Não se trata apenas de construir um edifício. Qualquer um com dinheiro pode construir edifícios. Entretanto, é preciso haver alguma espectativa, e alguma crença - eis um dos elementos mais importantes da arquitectura creativa. É claro, o custo do projecto é importante, mas não é o mais importante.(...)"



imagens do Modern Art Museum de Fort Worth


"M.A.: O vocabulário formal que você utiliza parece ser muito básico: o quadrado, o rectângulo, e uma espécie de círculo, ou elipse, que particularmente me fascina. Posso pensar nisto em termos do modernismo - Le Corbusier incorporou curvas, e também Frank Lloyd Wright, e provavelmente outros que não me lembro - os arcos de Louis Kahn no Kimbell, neste caso. Mas o seu uso da curva é de algum modo diferente. Trata-se frequentemente de um semi-círculo."

Villa Savoye - Le Corbusier

Guggenheim New York - Frank Lloyd Wright

Kimbell Art Museum - Louis Kahn


"T.A.: Você tem familiaridade com o Zen?

M.A: Um pouco.

T.A.: A essência da filosofia Zen é um círculo. O círculo, é claro, representa o infinito. Quando você fala das curvas que eu faço, você esta a falar de um quarto ou de talvez um sexto de um círculo como símbolo do infinito. Assim, o procedimento de completar o restante círculo para conformar o universo cabe à mente de cada um. Eu tento alcançar a possibilidade de que esse complemento ocorra na mente do observador. Ele preenche o espaço. Diversas grandes obras, no Ocidente e também no Oriente, incorporam este conceito: o Panteão em Roma, por exemplo. A sua metade superior é uma semi-esfera perfeita. A metade inferior é um cilindro, ambos criados com os mesmos raio e altura. A luz penetra ali pelo centro da abóbada. A escala é perfeita para o corpo humano e para a possibilidade de se pensar sobre a forma humana em relação ao universo. Às dez da manha no domingo, o coro se reúne e canta. Fui convidado a dar uma palestra na Universidade de Roma em Novembro passado, e tive tempo de assistir à missa. Naquele evento pude confirmar a ideia de que a arquitectura não é apenas uma forma, não é apenas a luz, não é apenas o som, não é apenas o material, mas a integração ideal de tudo. O elemento humano é a chave que reúne tudo isso. Um grande edifício só começa a viver quando alguém entra nele. Uma forma não é imaginação. Uma forma engendra a imaginação. E o panteão o faz de uma maneira muito contundente."


Imagens do interior do Panteão de Roma

Texto de: TADAO ANDO, conversas com Michael Auping

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