sábado, maio 30, 2009

Filosofia da contradição

Não descubro o medo que sentes, quando me abraças. Deixo-me levar apenas pelo conforto sentido, protegendo-me das intempéries tempestuosas da vida.
Não adivinho as incertezas no teu olhar (cravado no meu). A tua boca fala uma coisa, mas os teus olhos queimam-me a pele.
Não adivinho insegurança nos teus gestos, que guiam os meus movimentos.

Já não sei saber a verdade, e parece que nunca a julguei saber, porque nem tu a sabes direito. Talvez a verdade esteja em nós. Dentro de cada momento. Nas entrelinhas das nossas conversas. Entre cada gesto.

E Fernando Pessoa tinha razão quando dizia que não se deve descobrir a verdade, porque, o mais certo, é já a termos descoberto, e já estarmos cegos de tanta verdade que existe em nós.

Não posso esperar. Se esperar morro de tédio. Se esperar morro de impaciencia. Se esperar morro de desgosto. Nunca esperes por aquilo que também não espera por ti. E poderia aqui dizer a palavra esperar tantas vezes até lhe extrair todo o significado, como faço tantas vezes a coisas que quero esquecer. No final, a palavra rendeu-se à sua insignificancia.

E assim, faço eu o mesmo.
Repete-me mil vezes, e mil vezes me repete.
Não serei mais do que tu, por fim.
Dois grandes nadas, que se unem, e formam o universo.

30/05/2009

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sábado, maio 16, 2009

Semeador de Estrelas



Kaunas, Lituânia

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quarta-feira, maio 13, 2009

Memória

(Procuro esquecer o que se me afigura impossível, pois outrora quis "o teu olhar cravado no meu (...) Como quando fechamos os olhos depois de ter olhado para uma luz, Ela fica gravada durante uns momentos na nossa retina." Por outro lado "só o tempo dura, só o tempo cura, eternamente".)

Escuro.
Silêncio.
Desejei que aquele momento nunca acabasse.
Os teus olhos fechados,
Os meus olhos abertos,
Contemplando-te apenas.
Porque tudo era quente,
Tudo era seguro,
Tudo era garantido.
Gravei essa imagem nos meus olhos;
Para sempre.(...)


07/04/2009

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quinta-feira, maio 07, 2009

Tudo pela música.

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terça-feira, maio 05, 2009

Habitar o limite em Alcântara/Belém

Esta foi a minha proposta de Projecto do semestre passado. (Projecto VII, 4ºano, 2008/2009, Arquitectura)

O trabalho deste semestre era fazer um processo inverso: começar pelos detalhes/secções construtivas e acabar no projecto em si. Começar a uma grande escala, e acabar na escala geral, mais pequena. E aqui, o desafio inicial, era resolver construtivamente um edifício de habitação, o mais possível, dentro dos limites, num só material.

Perguntaram-me no final porque é que escolhi a madeira. Fui sincera, não tive nenhuma razão em especial, a verdade é que durante uma das aulas foi-nos imposto que escolhessemos só um, e um a um, fomos respondendo, e quando foi a minha vez respondi "Madeira." Escolhi a madeira porque nunca tinha experimentado e estudado esse material. E pronto. Lembro-me na apresentação final ter enrolado uma conversa qualquer quando me fizeram a pergunta "Porquê a madeira?", em que respondi primeiro com a sinceridade, e depois com um pseudo-raciocínio qualquer. A verdade é que nem os meus professores de projecto tiveram paciencia para ouvir a contra-argumentação do único júri convidado (cujo nome não vou revelar por delicadeza), cortando-lhe a palavra declarando que eu tive de escolher o material e pronto.

O processo de desenvolvimento construtivo é bastante mais interessante que as filosofias e explicações baratas do porquê da escolha. Inicialmente pensei numa fachada em madeira que tivesse um ritmo qualquer vertical, em que, ora teria materialidade, ora teria vazio. E correndo o risco de aqui expor a minha ingenuidade construtiva e pensativa, pensei em primeiro lugar em tábuas de madeira que me fizessem esse efeito na fachada. Só que as paredes têm a sua espessura, e logo a seguir achei melhor determinar que a todas as minhas paredes, incluindo as interiores e as exteriores seriam estruturais. Consequentemente, teria usar um tipo de madeira suficientemente resistente, e escolhi a madeira lamelada, barrotes entre 20 a 30 centímetros de espessura (tendo em alçado entre 15 a 40 centímetros de espessura). E assim usei o mesmo material igualmente em todas as vigas, vigas estas que se seguram aos barrotes verticais por aperto ou compressão. Nas fundações já se afigurava um panorama diferente. A verdade é que eu poderia ter usado fundações em estacas de madeira, mas teria de ter um solo mais húmido que não permitisse que a madeira apodrecesse, mas optei por adaptar o meu projecto à realidade (ninguém hoje em dia aplica fundações em estacas de madeira), e desenhei fundações em betão, simplificando-me muito a vida. Então, as paredes assentam numa malha de betão armado, cuja primeira laje de madeira é mais saliente, fazendo um contra-balançamento, permitindo que a função dessa saliência fosse uma varanda, ou circulação exterior ao edifício.




Logo a seguir, foi-me imposto um problema. "Não podes por vidros nesses vazios entre os barrotes." Por teimosia, resolvi manter a mesma estereotomia anterior, mas apenas de uma forma pontual, em que estes vazios existiam em situações de espaços interiores/exteriores, ou varandas. Em situações de espaços interiores, as paredes seriam feitas pelos mesmos barrotes sem nenhum entrestício a separa-los, em que apenas se retiravam para abertura de vão de janela, ou de porta. Outro problema: isolamento térmico. Podia recorrer ao cliché do isolamento de roofmate ou lã de rocha, etc, mas a minha intenção era levar ao extremo a utilização da madeira. Como a cadeira de Projecto era em feita em simultâneo com a de Tecnologias, propuseram-nos fazer cálculos térmicos das paredes, lajes e cobertura. A madeira lamelada tem um valor de condutibilidade térmica rasoável (nada comparado aos metais ou a outros), mas por ser um material denso, apesar da sua espessura, não chega para isolar termicamente uma parede, por isso teria de usar um material, de madeira, pouco denso, e com um valor de condutibilidade térmica baixo (quanto maior é este valor, menor é a possibilidade de isolar). E lá na "tabelazinha" do LNEC, deprarei-me com a balsa. A balsa, por ser um tipo de madeira pouco densa, ajuda a isolar, mas é pouco resistente. Foi então que me foi sugerido pelo professor de Tecnologias o termowood, um tipo de madeira modificada para isolar termicamente. Optei por usar esse material no revestimento interior, tendo a balsa entre o termowood e os barrotes de madeira lamelada. Confesso que não tive paciencia, e determinei que as lajes teriam "sandwiches" de madeira e lã de rocha e na cobertura além da lã de rocha, o pvc, visto que a tela asfáltica destrói a madeira.
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Derrepente, o projecto em si. De uma hora para outra foi preciso desenhar a organização interior das habitações, a implantação do edifício, etc. E aqui é que vem a minha "ego-trip". Na apresentação final fui criticada por não ter tido em conta o contexto histórico e a malha urbana do local.

Podia escrever aqui um discurso infindável ácerca da inserção urbana de vários edificios, e a minha opinião sobre isso, mas a verdade, é que em relação a este projecto, o contexto histórico urbano era um factor que pouco me interessava e pouco me dizia. Já para não falar que eu tinha mesmo que entregar o projecto daí a uma semana, mas isso é outra história.



Belém, e aliás, toda a zona ribeirinha de Lisboa foi modificada ao longo dos tempos, por factores naturais e por factores de obra humana, especialmente durante o final do século XIX e até aos anos 50 ou 60 do séc. XX, com o desaparecimento da praia, e consequentemente a construção dos dois sucessivos aterros (para dar lugar aos jardins de Belém, para a construção da linha férrea de Cascais e para dar lugar aos portos náuticos e local de arrumo de contentores). Ao longo dos tempos ninguém, até ao século XX, se preocupou com o contexto urbano, por uma razão lógica muito simples: tudo faz parte de uma evolução humana, arquitectónica, paisagística, etc, que é natural, pois sem a evolução estagnamos. Como diria o Valério Olgiati, as igrejas românicas não foram construidas ou planeadas segundo nenhum contexto topográfico ou outro.

Foto cedida por Gonçalo Arruda
A minha preocupação na implantação do projecto foi ocupar o mínimo espaço possível do terreno, pois, embora não o tenha planeado, o espaço vazio público é muito importante no planeamento urbano. Por isso, todas as condicionantes impostas neste exercício de projecto seriam resolvidas num edifício com 7 metros de espessura, 70 metros de comprimento, 24 metros da altura desde a cota da av. da Índia, e 18 metros de altura desde a cota da rua Junqueira. E estas são as minhas únicas preocupações na implantação do edifício, e eu assumo como tal logo à partida. Como diria um antigo professor meu, o arquitecto Fernando Salvador, não podemos resolver os problemas do mundo inteiro, mas se resolvermos um de cada vez, é meio caminho andado para um mundo melhor. (por mais pseudo-inteligente ou pseudo-whatever que isto possa soar)

A organização interior é muito simples, parte de um conceito que consiste nas paredes serpentearem no interior do edifício, delimitando espaços de diferentes funções, cozinha, sala, quartos e casa de banho. Também fui muito criticada por desperdício de espaço, usado pelos corredores. Mas mais uma vez, esse era um conceito que eu queria usar. Os pés direitos duplos pontuais em algumas salas, geraram os pátios horizontais no edifício, e posso afirmar que são mesmo consequencia da evolução do projecto, e que a parecença com os edifícios da Sejima é mera coincidencia (embora possa afirmar que os admiro muito). Todo o estacionamento é resolvido por baixo do edifício, tendo ele dois níveis. O primeiro acede-se pela rua Junqueira, e o segundo pela avenida da Índia, através de uma faixa de desacelaração, por esta ser bastante movimentada.








Não é de maneira nenhuma a minha intenção ser pretenciosa, afirmando que o meu projecto é espetacular, ou denominar-me eu própria de espetacular. Mas sempre é importante partilhar experiencias que possam ajudar outros também. Este não é o meu projecto preferido que fiz ao longo do meu percurso académico, mas é talvez aquele que mais gostei de executar, porque o que contou mais para mim não foi o resultado final, e sim o seu desenvolvimento. Aprendi mais num semestre do que no resto dos anos, desde o início da faculdade.

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John Lennon

Amo a liberdade, por isso deixo as coisas que amo livres. Se elas voltarem é porque as conquistei. Se não voltarem é porque nunca as possuí.

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