sábado, abril 18, 2009

Fôlego

Às vezes queria esquecer, sabes, esquecer quem sou, e partir daqui para um lugar que não este, por exemplo, quando estou num sítio em que tudo à minha volta me passa ao lado, tudo parece rápido demais e eu pareço que me movo em câmara lenta, já te aconteceu isso, demoro a interagir, e mesmo quando só me apetece estar noutro lugar qualquer, percebes, apetece-me só que o meu espírito se evapore, voe, teleporte-se para outro espaço, dimensão, submundo, ou até mesmo uma cena mesmo à filme, estas a ver, um alien chegar derrepente e raptar-me para Marte, Plutão, planetas xpto’s, onde não tenho de aguentar estupidez, idiotices, interesseiros, sofrimentos, passagens de ano secantes, onde há gente demasiado feliz, e outros de olhos vazios, como eu, olhando para o nada, onde não tivesse de aturar faculdade, Nunos Mateus, miudas insuportáveis, rapazes grosseiros e basbacões, sotaques british, yah, isso mesmo que estás a pensar, e até mesmo não ter de suportar aquelas pessoas irritantes que estão na tua cabeça, que chatice, não param de falar um segundo, a fazer perguntas e a dar ideias e palpites, assombrando a tua cabeça de pensamentos angustiantes ou chatos, fazendo filmes na tua cabeça, e depois acabas por te esquecer de tudo o que ias a dizer, a fazer ou a escrever, mas ouve-me, eu ainda não acabei, e não te enerva também estares num compartimento qualquer de uma casa, e teres alguém na sala ao lado a conspirar, a falar, a sussurrar coisas sobre ti, e só te apetece mandar um balásio na parede e gritar bem alto todo o tipo de impropérios que te vierem à cabeça?? Estás-me a ouvir??

(subitamente o silêncio, escutando-se só a máquina cardeo-vascular sem sinal das batidas do coração)



02/01/2009

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terça-feira, abril 14, 2009

SHANGRILA!! (adivinha quem é?)


Thanks to Rosalis :)

Carta 2

Lembro-me bem de quando éramos pequenas. Uma das recordações mais remotas eras tu, de cabelo curto, e de vestido branco. Chegaste com os teus pais à aldeia, a tua mãe grávida com o teu irmão no ventre. Os teus olhos grandes claros realçavam-se na tua cara, feliz. Brincámos juntas na casa da tua avó, da minha avó, cheias de colares coloridos da minha mãe e das minhas tias. Demos a mão a subir as escadas de casa dos meus avós, que na altura pareciam quase infindáveis, eu chegava sempre cansada, mas tu tinhas uma energia e subias com uma agilidade admirável, e parecia que para ti o calor que dava o cansaço não existia. As coisas pareciam tão simples para ti. A tua mãe chegou para te buscar à noite, e tu já tinhas o vestido sujo. O teu irmão nasceu, o meu primo nasceu, e brincámos os quatro, dançamos, corremos, cantámos… A vida era tão fácil para nós…

Houve um dia que foi mesmo impossível concentrar-me na matemática. Não que fosse uma coisa que me concentrasse bem, mas com a morte da tua mãe eu não conseguia deixar de pensar em ti, e o ar saía dos meus pulmões e parecia não querer entrar mais… Naquela noite, o meu sono não foi profundo, ora acordava, ora dormia mas consciente. Um estado em que não se está bem acordado, mas também não se está totalmente a dormir. Quando isso acontece os meus olhos ficam secos, e parece que se colam às pálpebras, ficando estas perras. Tu parecias lidar tão bem com a situação que me metia medo de perder a minha própria mãe. Eu sabia que por trás do teu sorriso e das tuas brincadeiras algo se passava e estava mal. Dormimos juntas, com o saco de água quente roto da minha tia. Acordamos a rir, com a cama encharcada.

Teria muita coisa para contar e para recordar, mas tenho a certeza que te lembras tão bem quanto eu. Hoje…. Hoje és mãe, e tens apenas um ano a mais do que eu. O que te terá passado pela cabeça?? Eu sei que gostas de crianças, mas não esperava que as coisas pudessem acontecer tão rápido contigo. Apesar de uma infinidade de perguntas e de dúvidas crescerem na minha cabeça, não me cabe a mim julgar, ou fazer suposições da tua vida. Eu só quero que esse rapaz seja feliz e que tenha saúde. A única coisa que eu tenho pena é que o meu filho (se eu os tiver) não possa brincar com o teu como nós fizemos um dia. Agora que tens um rebento para criar, quando é que nos poderemos encontrar outra vez?

Já tive mais vontade de ter uma extensão minha à face da terra, mas hoje já vivi tanta coisa desde então, que nada mais faz sentido. Começo a achar, por humor, que os filhos dos outros são mais giros e mais engraçados porque não nos dão trabalho, mas por outro lado, é um pedaço de carne nosso, gerado por nós, que está ou estará ali, à nossa frente. Mudará todos os nossos instinctos, as nossas vidas, a nossa forma de pensar. Mais do que nunca daremos a nossa vida por esse alguém sem pensar duas ou sequer uma vez. Um novo tipo de amor nasce para nós, nunca antes descoberto.

O problema é que a minha personalidade e a minha forma de pensar não encaixa em certo tipo de coisas. As pessoas podem-me chamar tradicionalista, tacanha, retrógada, conservadora, whatever, mas até hoje eu não me imagino experimentar esse tipo de amor, sem antes experimentar o amor verdadeiro da paixão. De olhar para uma pessoa do sexo oposto ao meu e poder dizer com toda a certeza que aquela é a pessoa que sempre esteve destinada para mim, à qual eu sinto uma empatia tal que nada entre nós se poderá desmoronar. Muitas pessoas diriam que eu não sou realista, “Ana, nada é para sempre, tudo acaba, e tens de te sujeitar a que um dia essa pessoa te abandone porque as coisas não funcionam.” Eu digo, “fuck that.” São os meus princípios, mesmo que um dia morra sozinha, à procura do que muitas pessoas dizem ser impossível, ou pouco provável.

Por isso eu penso e divago. Se algum dia as nossas vidas se juntassem num só corpo, nós seriamos completamente felizes. Pelo menos da minha parte. Invejo-te, por teres um pessoa ao teu lado, desde à tanto tempo… e calculo que também darias tudo para ter a tua mãe contigo. Não querendo de maneira nenhuma ser depreciativa, ou que tenhas uma ideia errada de mim, que eu talvez pense que eu ou tu somos melhores que tu ou eu.

Gosto de ti, e para ti quero e desejo o melhor.
Abraços.

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A Madrugada custa a passar quando estamos de directa

Lembro-me do cheiro dos arbustos que cresciam ao pé das escadas da casa dos meus avós. Mas o primeiro cheiro que eu sentia era o da carrinha do meu avô. Descia com um salto e inspirava o ar da aldeia, umas vezes o fumo das chaminés, outras ao musgo e à erva, árvores, e derrepente, já perto da porta, dos arbustos bem cuidados, entrava então em casa.
Lembro-me do cheiro do baralho de cartas, escondido ao lado da televisão, na grande estante de módulos dos anos 60. Do cheiro das almofadas. A sala de jantar cheirava sempre a bolos.
A coca-cola, na altura, sabia-me muito melhor, à hora das refeições na cozinha (talvez porque me obrigavam a beber com moderação).
O grande terraço… albergava as minhas brincadeiras e a dos meus primos mais velhos.
Tudo isto está diferente e acabou. O avô comprava-me chocolates “guarda-chuva”. A avó cuidava de mim, e levava-me o leite com chocolate à cama, de manhã.




18/04/2008

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Espasmos

As luzes da noite ofuscam-nos os olhos da alma.
E derrepente... Queremos voar! Sem saber porquê.
Andar em noites de trovoada a vaguear... Aterrar em sítios desconhecidos.Mas acordamos outra vez, e estamos à beira do rio, onde se vêm ao longe as luzes.
As luzes, que nos ofuscam os olhos da alma.



22/10/2005

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